“… Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a Caridade. A maior delas, porém, é a Caridade” (I cor. 13,13.).
Há alguns meses estamos refletindo sobre as virtudes teologais. É, sobretudo São Paulo apóstolo que mensiona estas três virtudes em suas Cartas, como aos Tessalonicenses “revestidos da couraça da fé e da caridade, e do capacete da esperança da salvação” ( ITes 5,8) e ainda na mesma carta: “ a atividade de vossa fé, o esforço da vossa caridade e a perseverança da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (I Tes 1,3), assim como o famoso hino à Caridade
(I Cor 13).
Hoje, porém, corremos o risco de ao falarmos da Caridade ou do Amor sermos mal entendidos devido à vulnerabilidade desses termos. O Amor costuma aparecer nas músicas populares e nas declarações entre namorados ou amigos ao dizer: “eu te amo!”. Já a caridade virou sinônimo de doação, filantropia, etc. Mas o que verdadeiramente São Paulo apóstolo nos ensina com o termo Caridade? O que podemos aprender e como viver esta virtude?
Podemos dizer, num primeiro momento, que a Caridade é a virtude que tem como papel nos unir a Deus e ao seu modo de ser, pois “Deus é Amor!” (I Jo 4, 8) e consequentemente nos une aos irmãos.
Lembremos o resumo de toda a Lei de Deus dada por Jesus Cristo “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” (Mt 22, 34-40). A caridade está no centro, ou pelo menos deveria estar, como essência de tudo o que fazemos, como motivação que subjaz, que assegura todas as outras virtudes, fazendo tudo convergir para Deus. Só assim compreenderemos o Cântico à caridade de São Paulo onde ele diz claramente que posso fazer coisas extraordinárias e coisas em vista do bem como “distribuir todos os meus bens aos pobres”, se todavia não tiver a Caridade, isso não vale de nada.
Meus irmãos só Deus “autentica” nossa vida e nosso ser. Só o Senhor realiza em nós o amor perfeito, livre de todo interesse e egoísmo. Só Deus em nós pode nos conceder o dom de amar como convém. Só Ele em nós nos leva a amar a Sua vida divina e participar dela como filhos queridos. Só a caridade nos une a Deus e nos transforma Nele. Sem a caridade todo esforço é vão.
Podemos, então, nos perguntar: Se é assim, quem pode amar verdadeiramente? Lembremos que para Deus nada é impossível. Nos unindo a Deus de todo o coração, com todo o desejo de nosso ser, com todas as nossas forças, com toda a nossa decisão e vontade, Deus mesmo vai transformando-nos; faz com que saiamos de nós mesmos, dilata nosso coração, concentra nossas energias para Deus mesmo e leva-nos a imitá-lo e assemelha-nos a Ele em amor. Assim, aprendemos com Ele e Nele a nos doarmos ao próximo e a fazermos o bem, não por nós mesmos, mais impelidos pelo amor de Deus que nos habita. Cada irmão e irmão é alvo de nossa atenção e solidariedade, de nossa estima e respeito. Descobrimos que ajudar é sempre possível, não só ajuda material, mas também, espiritual e humana.
“A caridade é forte como a morte” (Cant 8,6) e “apaga uma multidão de pecados” (I Pd 4,8), por isso nos exercitemos na prática da caridade “que é paciente, benigna, não é invejosa, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não é injusta e assim por diante (I Cor 13).
Por fim, a caridade é fonte de alegria e paz profunda, pois a convicção de que Deus é que nos torna capazes de amar nos traz isso, só precisamos nos colocar a caminho numa prática progressiva do amor de Deus. A fonte não somos nós, é Deus em nós.