A poucos dias celebramos o Natal do Senhor, dia feliz em que Cristo nasceu de uma Virgem e entrou na nossa história, nos revelando o “quanto Deus amou o mundo”. Agora iniciamos um novo ano civil e, de alguma forma, também somos convidados a “entrar”, com Cristo e em Cristo, nesta nova etapa da vida, recebida do Pai Celeste como dom do Seu amor.
Mas como desejaríamos entrar neste novo ano? É bem provável que cada um de nós elencaria uma gama de desejos ou ao menos o desejo de paz. Mas será que alguém se arriscaria em dizer: “Eu quero ser um homem pacífico, ser uma mulher pacífica”? No profundo de cada ser humano está vivo o anseio pela paz. Mas pode acontece que em meio a tantas demandas que a vida e a sociedade exigem não nos demos conta que dentro do nosso ser mais íntimo está um anseio permanente: PAZ! E ainda, é possível que o nosso coração se desumanize e se torne insensível àquilo que de fato é essencial e pode trazer-nos a paz, em troca de escolher investir a vida naquilo que desfigura a nossa identidade original de filhos e filhas de Deus. Embora o mundo esteja profundamente marcado com situações de conflitos e divisões não podemos deixar de considerar que o Espírito Santo continua suscitar e sustentar na história homens e mulheres pacíficos no coração e nas obras. Isto evidencia que Deus fez conosco uma Aliança de Paz e que nós nos tornamos pacíficos na medida em que somos fiéis a esta Aliança, orientando nosso pensar, sentir e agir à partir da relação com Aquele que é a nossa Paz.
São Francisco desejava que os irmãos fossem homens de paz, presença viva desta paz recebida da gratuidade do Senhor. Francisco soube cultivar a atitude de receber do Senhor o dom da paz, o dom da Sua presença, especialmente na Eucaristia, para se trabalhar no caminho contínuo da conversão e se tornar presença desta paz a todos os homens e a todas as criaturas: “São verdadeiramente pacíficos os que, no meio de tudo quanto padecem neste mundo, se conservam em paz, interior e exteriormente, por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Certamente São Francisco fala a partir de sua própria experiência, de alguém profundamente reconciliado e em íntima comunhão de amor com o Senhor da Paz, o Filho de Deus, que padeceu muito no caminho da cruz, sendo vítima de extrema violência. No entanto, manteve-se em paz interior e exteriormente, fazendo da sua entrega de amor a fonte de reconciliação e pacificação…”.[1]
Estamos todos expostos a inúmeros desafios que surgiram ou ganharam força neste tempo de pandemia e é justamente dentro desta realidade de dor, sofrimento, insegurança e instabilidade, na qual nos sentimos vulneráveis, que Jesus entra em nosso meio e nos doa sua paz, nos convidando a entrar, com Ele e Nele, na dimensão vulnerável da vida para experimentarmos a força de uma nova e renovada dinâmica de relações fraternas e reconciliadoras, capazes de fazer germinar e brotar, dentro(interior) e fora(exterior) de nós aquela Paz que pela fé acreditamos ser Ele mesmo: Deus em nós e entre nós!
Concluímos rogando a Santa Maria, Mãe de Deus e nossa, que venha dilatar o nosso coração para entrarmos neste novo ano com o desejo e a coragem de sermos homens e mulheres pacíficos, reconciliados e reconciliadores. Amém!
[1] “A Mística da paz em Francisco e Clara”; Texto publicado na “Revista Franciscana”, FFB, 2004, volume IV. Frei Nestor Inácio Schwerz, franciscano da Província São Francisco de Assis, de Porto Alegre (RS). Fonte: site da FFB.