A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo na vida de Santa Clara tinha um significado profundo de união esponsal, aprender a viver as dores e as alegrias daquele que se ama junto com Ele, como ela nos diz em sua Carta a Santa Inês: “ Se você sofrer com ele, com ele vai reinar; se chorar com ele, com ele vai se alegrar; se morrer com ele (cfr. 2Tm 2,11.12; Rm 8,17) na cruz da tribulação vai ter com ele mansão celeste nos esplendores dos santos (Sl 109,3).( 2 CtIn 21).
Não no sentido de experimentar as mesmas dores, proque nenhum ser humano pode suportar o que Nosso Senhor Jesus Cristo suportou na sua paixão de uma só vez o aniquilamento físico, psicológico, emocional , porque Jesus Cristo é Deus e homem e Santa Clara mesmo sendo muito ascética nunca teve essa pretenção.
A motivação de santa Clara era somente uma amar o Esposo Pobre e Crucuficado .
“Com o desejo de imitá-lo, mui nobre rainha, olhe, considere, contemple o seu esposo, o mais belo entre os filhos dos homens (Sl 44,3) feito por sua salvação o mais vil de todos, desprezado, ferido e tão flagelado em todo o corpo, morrendo no meio das angústias próprias da cruz.”( 2 CtIn 20).
A espiritualidade da Igreja na Idade Média no século XIII, era uma verdadeira cultura de penitência, e é evidente que Santa Clara foi influênciada por essa religiosidade , foi atraída por esse ideal de vida ascética e heróica.
São Francisco a repreendia muitas vezes, obrigando-se a se tratar com menos rigor : “ Quando chegou a noite do sábado, a devota filha acendeu uma vela e, sem falar, com um sinal, lembrou sua mãe da ordem que recebera de São Francisco. Pois o santo mandara que não deixasse passar um só dia sem comer.” (LSC 31)
Esse fato aconteceu após uma experiência mística de Santa Clara com a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Chegou, uma vez, o dia da Sagrada Ceia, em que o Senhor amou os seus até o fim (cfr. Jo 13,1). Pela tarde, aproximando-se a agonia do Senhor, Clara, entristecida e aflita, fechou-se no segredo de sua cela. Acompanhando em oração o Senhor que rezava, sua alma triste até a morte (cfr. Mt 26,38) embebeu-se da tristeza dele, a memória foi se compenetrando da captura e de toda derisão: caiu na cama.
Ficou tão absorta durante toda aquela noite e no dia seguinte, tão fora de si que, com o olhar ausente, cravada sempre em sua visão única, parecia crucificada com Cristo, totalmente insensível.” (LSC 30).
Em tudo é surpreendente constatar até que ponto Santa Clara se mostra humana e equilibrada, nas penitências que aconselha ou permite ás outras irmãs, ela sabe discernir e separar o que Deus pede em especial a ela e para suas irmãs.
Percebemos em Santa Clara que o amor e o louvor tem prioridade sobre a penitência.
Santa Clara soube ir além desse sofrimento corpóreo, que foi uma parte dos sofrimentos de Nosso Jesus Cristo, ela soube unir também os sofrimentos da alma, angústia, solidão, Santa Clara soube unir os seus sofrimentos aos do seu Amado Esposo, na sua coerência e testemunho de vida a começar com a dor da perda de seu amado amigo Sâo Francisco, a espera da aprovação da sua Regra de Vida, os anos em que padeceu com as doenças do corpo, ela não perdia as oportunidades que a vida apresentava a ela para se unir ao Esposo.
Estejamos atentos nesses dias que antecedem a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Aprendamos com Clara a sofrer com Ele para com Ele nos alegrarmos. Que Jesus nos dias de hoje sinta a nossa companhia amorosa nesse mistério de santificar e renovar todas as coisas no amor, um amor que por vezes de forma incompreensível atravessa a caminho escuro da dor. Mas como Clara … clara é a luz de Cristo na vida daqueles que abraçam esse mistério e dizem sim ao chamado de se tornarem Seus colaboradores no Mistério Pascal. À todos Paz e Bem !
Ir. Verônica, fpss.