Os mistérios e a beleza da Vocação Religiosa

Quando falamos de vida religiosa, podemos nos arriscar a pensar de maneira resumida em uma vocação tão bela e particular que o Senhor nos dá a graça de termos em nossa Igreja e que muito a enriquece, pela entrega e intercessão de seus consagrados, seja pela oração, seja pelo cotidiano vivido em busca da santidade. 

Essa forma resumida de pensar, pode acontecer quando olhamos para a vida religiosa apenas como a vocação dos “nãos”. Por exemplo: vida religiosa é a vocação em que NÃO se casa, é a vocação em que NÃO se pode reter nada para si de material, é aquela na qual NÃO se pode realizar a própria vontade… 

Mas não podemos esquecer, que para cada “não”, há um “sim”! Tanto que a vida religiosa se espelha muito no fiat da Virgem Maria, tendo-a como grande exemplo de correspondência à vontade de Deus. E dizer “não” para algumas coisas, significa decidir-se por um “sim” a outras.

Aprendemos no desenvolvimento da vida, que temos vontades, mas que há outros, como nossos pais, que têm vontades diferentes das nossas, mas não necessariamente são vontades contrárias a nós. Podem ser contrárias à nossa vontade momentânea, mas nos são favoráveis pelo amor com que nos direcionam pelas decisões. Quantos de nós precisamos levar algumas repreensões para aprendermos a escolher aquilo que, de fato, era o melhor? E só aprendemos realmente, quando fazemos a experiência de confiar na vontade de outrem, e assim executá-la. Assim podemos compreender um pouco a vida religiosa. 

Confiamo-nos àquilo que Deus quer de cada um de nós enquanto vocação particular. E não pensemos que a vontade de Deus é aquela que é sempre contrária à nossa. Podemos aprender, pela experiência de sermos amados por Ele, que podemos unir nossa vontade com a Dele, e assim vivermos uma comunhão desde as minúcias, desde o querer até o fazer.

A vida religiosa é a vivência radical do nosso batismo. E não que outras pessoas não possam viver a radicalidade do Batismo, mas na vida religiosa, de modo particular, é essa radicalidade vivida em uma especificidade, isto é, inserida num carisma, que é uma espécie de identidade, dentro de algo maior do que “eu”. O carisma é a identidade de um todo, carisma este que fará parte também dum “eu”, fará parte de mim através da minha decisão e da minha correspondência à vontade de Deus, e eu também construirei, com o que sou, a identidade desse “todo”, com a graça de Deus. 

Mas para tanto, é necessária uma reciprocidade tanto da parte da pessoa para com Deus, como da pessoa para com o “todo” (como um Instituto religioso, por exemplo), ou seja, precisa haver uma comunhão com Deus, diretamente falando, mas também com outros com os quais Ele mesmo coloca na nossa vida para aprendermos concretamente a viver nesta comunhão.

Contudo, a vida religiosa precisa ser lembrada como aquela que abdica de coisas boas, para abraçar outras, não necessariamente melhores, pois não se trata aqui de uma comparação com outras vocações, mas se trata de estar no lugar que é seu, e dessa forma, as renúncias feitas através de alguns “nãos”, aparentemente mais visíveis, são permeadas de “sins” todos os dias.

Dizer não a algumas coisas não é porque me “obrigo” a fazer outra coisa que sei que é simplesmente “boa”, porque é lógico usarmos nossa inteligência para fazermos boas escolhas, mas é que a cada renúncia feita com um “não” uma decisão é feita por um “sim”. Até o fato de não querermos decidir já é uma decisão. Portanto, não contemplemos as aparentes “feiuras dos ‘nãos’”, mas recordemos sempre, que para cada “não”, há um “sim”, e que para cada sim, há uma beleza a ser contemplada e vivida.

A vida religiosa, é a vocação da decisão, cheia de beleza a ser vivida, contemplada, testemunhada e aprendida, mas para isso precisamos aprender a olhá-la além da “casca”. A olhá-la com a sensibilidade de quem não se esquiva dando “nãos”, mas de quem acolhe e se aproxima pelos “sins”, se aproxima de Deus e de tantos, pela identidade carismática que o Senhor confia a cada família religiosa. 

Nós, Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento, nos aproximamos da Eucaristia e dos pobres mais necessitados.

Que o Senhor Jesus, no Santíssimo Sacramento, seja nosso exemplo e auxílio para irmos além das aparências e olharmos a verdadeira essência de quem somos Nele.

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