Há séculos a Santa igreja Católica tem como proposta a todos os fiéis a leitura divina da Palavra de Deus, ou leitura orante (lectio divina) como meio de conhecimento da revelação do próprio Deus que se dá no Filho, o Verbo eterno, que ilumina todos os homens e veio manifestar a vida íntima de Deus (cf. Jo 1,1-18). “Com efeito, nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de seus filhos, a conversar com eles; e é tão grande a força e a virtude da Palavra de Deus que se torna o apoio vigoroso da Igreja, solidez da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual,” (Dei Verbum 21).
A leitura das Sagradas Escrituras não deve acontecer sem que seja num espírito oracional, pois é através da oração que se dá o diálogo entre Deus e o homem na qual “a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos” (Sto. Ambrósio). Existem diferentes métodos de se fazer a lectio divina, porém a primeira organização sistemática se deu no séc. XII com um monge Cartucho (Guido) e foi colocada da seguinte forma:
1- Leitura, 2- Meditação, 3- Oração, 4- Contemplação. “A leitura procura a doçura da vida bem-aventurada; a meditação a encontra; a oração a pede, e a contemplação a experimenta. A leitura, de certo modo, leva à boca o alimento sólido, a meditação o mastiga e tritura, a oração consegue o sabor, a contemplação é a própria doçura que regala e refaz. A leitura está na casca, a meditação na substância, a oração na petição do desejo, a contemplação no gozo da doçura obtida.” (Guido, o Cartucho, Scala Claustralium) Se seguidos diligentemente cada passo da leitura divina, certamente o fiel orante será interiormente impelido pelo Espírito Santo (luz dos corações) à conversão de vida, à ação caritativa, ao amor a Deus e ao próximo, à busca sincera da santidade. Assim como na parábola do semeador (cf. Mt 13,4-23), a semente da Palavra de Deus não cai no terreno do coração sem que dê seus devidos frutos a seu tempo.
Como nos diz nosso pai seráfico Francisco, “Ninguém é suficientemente perfeito que não possa aprender com o outro e, ninguém é totalmente destituído de valores que não possa ensinar algo a seu irmão.”, assim também a experiência pessoal que cada um tem com a Palavra de Deus pode ser partilhada em comunidade e isso é salutar para o crescimento individual e comunitário e também um meio de comunhão fraterna, pois a providência divina se manifesta em cada ser, em cada irmão e irmã que na sua particularidade recebe a revelação pela Palavra de Deus.
Para as Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento a lectio divina (tanto individual como comunitária) é um pilar da vida espiritual que leva à íntima relação com Deus e faz aprofundar o conhecimento de si no confronto da própria vivência com os valores evangélicos: “Tome cuidado com a sua vida, talvez ela seja o único evangelho que as pessoas leiam.” (São Francisco de Assis).
Que a Palavra de Deus habite em nossos corações de modo que não apenas a nossa boca, mas todo o nosso ser, proclame as maravilhas de Deus em nosso viver.
Ir. Cristiane – FPSS