Ó DEUS TODO-PODEROSO, avivai nos vossos fiéis, ao começar o Advento, o desejo de acorrerem ao encontro com Cristo, acompanhados pelas boas obras.
Talvez já tenhamos tido a experiência – diz Ronald Knox num sermão sobre o Advento – do que é caminhar na noite e arrastar os pés durante quilômetros, fixando avidamente o olhar numa luz longínqua que representa de alguma forma o lar. Como é difícil avaliar as distâncias em plena escuridão! Tanto pode haver uns quilômetros até o lugar do nosso destino, como apenas umas centenas de metros. Era essa a situação em que se encontravam os Profetas quando olhavam para o futuro, à espera da redenção do seu povo. Não podiam dizer, nem com uma aproximação de cem anos ou mesmo de quinhentos, quando é que o Messias chegaria. Só sabiam que um dia a estirpe de Davi voltaria a florescer, que um dia encontrariam a chave que abriria as portas da prisão; que a luz, que avistavam apenas como um ponto nebuloso no horizonte, haveria de ampliar-se por fim, até se transformar num dia perfeito. O Povo de Deus devia permanecer à espera.
A Igreja universal não celebraria com tanta devoção este Advento se não contivesse algum grande mistério.
Esta mesma atitude de expectativa é a que a Igreja deseja para os seus filhos em todos os momentos da sua vida. Considera como parte essencial da sua missão fazer com que continuemos a olhar para o futuro, ainda que estejamos no limiar do segundo milênio daquele Natal que hoje a liturgia nos apresenta como iminente. E anima-nos a caminhar com os pastores, em plena noite, vigilantes, dirigindo o nosso olhar para a luz que jorra da gruta de Belém.
Quando o Messias chegou, poucos o esperavam realmente. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Muitos daqueles homens haviam adormecido para o mais essencial das suas vidas e da vida do mundo. Estai vigilantes, diz-nos o Senhor no Evangelho da Missa. Despertai, repetir-nos-á São Paulo. Porque também nós podemos esquecer-nos do mais fundamental da nossa existência.
Convocai todo o mundo, anunciai a todas as nações e dizei: Olhai para Deus, nosso Salvador, que chega. Anunciai-o e que se ouça; proclamai-o com voz forte. A Igreja nos põe de sobreaviso com quatro semanas de antecedência a fim de que nos preparemos para celebrar de novo o Natal e, ao mesmo tempo, para que, com a lembrança da primeira vinda de Deus feito homem ao mundo, estejamos atentos a essas outras vindas do Senhor: no fim da vida de cada um e no fim dos tempos. Por isso o Advento é tempo de preparação e de esperança.
Vinde, Senhor, não tardeis. Preparemos o caminho para o Senhor que chegará em breve; e se notarmos que a nossa visão está embaçada e não distinguimos com clareza essa luz que procede de Belém, é o momento de afastar os obstáculos. É tempo de fazer com especial delicadeza o exame de consciência e de melhorar a nossa pureza interior para receber a Deus. É o momento de discernir as coisas que nos separam do Senhor e de lançá-las para longe de nós. Para isso, o exame deve ir até as raízes dos nossos atos, até os motivos que inspiram as nossas ações.
Fonte: Livro “Falar com Deus” de Francisco Fernández Carvajal